19.1.12

In her fake plastic earth...

Alguns anos tinham se passado. O grupo de amigos era o mesmo. O clube na avenida cheio numa noite de verão intenso. Quase ninguém conseguia acreditar que uma das maiores estrelas da música nacional estava ali, apresentando-se em plena avenida no meio de todo mundo. E me sentia em casa. Pouca coisa havia mudado naqueles anos, pouca coisa que, na verdade, seria muito se comparasse com o tamanho simbólico da vida que levava. Tudo que consegui nos últimos quatro anos nunca existiu, nunca aconteceu.

Drinks coloridos e risadas para acompanhar o relato da viagem de um grupo de amigos. Imaginava cenas engraçadas, sempre atenta ao outro lado da rua.

“Ele não tira os olhos de você.”

E aquela mesma expressão pretensiosa que conheço desde os catorze anos me acompanhava enquanto criava coragem pra tomar uma atitude. Os olhos escuros e o sorriso torto chamavam a atenção enquanto as sobrancelhas me convidavam.

Fico de pé e peço licença. Gritos de surpresa interrompem a conversa, e expressões de dúvida e de desafio me incitam a descer alguns degraus. E era como se esse último ano não tivesse nunca existido, nem em vontades, nem em sonhos e, infelizmente, nem em lembranças (sub) conscientes. E no meio da multidão avanço na direção de tudo o que teria sido real se tivesse ignorado minha intuição.

Mas toda aquela coragem não é minha. Não seria minha se não fosse por este último ano. Não seria jamais real se não fosse por tudo o que aprendi ao deixar pra trás a possibilidade de que aquilo tudo pudesse mesmo acontecer.

Os braços eram os mesmos de um ano atrás. Fecho os olhos e era como uma memória que, de repente, vivia de novo. O calor e a agitação eram verão demais pra mim.

Abro os olhos e vejo que aquele sorriso torto era mesmo feliz, os olhos estupidamente escuros me diziam que eram felizes, me diziam que EU era feliz. Olho em volta e vejo olhares surpresos de amigos que duvidaram que eu pudesse agir. Olho pra tudo à minha volta e sinto-me em casa. Damos as mãos e convido a uma fuga de toda aquela agitação.

Ando um pouco a frente guiando para algum lugar mais fresco e mais calmo. Eu mesma já era diferente. Paro e procuro pelos olhos que convidara ali.

Uma onda cruel de culpa me atinge. Não eram aqueles os olhos que deveria querer. Não era aquela a vida que tinha escolhido. Não era aquele lugar que me deveria me fazer sentir em casa.

E não era aquele sorriso torto quem deveria me fazer feliz.

Fecho os olhos com força suficiente para acordar na manhã de quinta-feira buscando pelo celular pra ter certeza de quem era mesmo minha realidade.

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