8.1.11

entradas de cinema

me fizeram religar o notebook.

Dizem que velhos hábitos nunca morrem. Antes de me mudar pra Campinas, foram várias as vezes que desejei  ter como guardar minhas entradas de cinema. O Roxi não tinha entradinhas que seriam rasgadas, ou comprovante de pagamento, ou ingressos comprados pela internet e impressos em casa… Mas eu ainda me lembro de todas as vezes que eu quis alguma entrada do Roxi pra guardar.

Abandonei o Roxi. Assim que isso aconteceu, prometi a mim mesma que iria guardar todas as entradas de todas as vezes que eu fosse ao cinema. Cinemark, Kinoplex, Topázio… São tantas…

Mas falta uma. Aquela que eu vi ser jogada no lixo enquanto minha barriga gelava. Aquela dos minutos intermináveis de batalha entre sonho e realidade. Aquela que pôs um fim a meses de uma espera infantil à qual eu não dava crédito. Aquela que poderia ter levado a outras, o que não aconteceu. Aquela que meu subconsciente não me deixa logar no lixo das minhas próprias memórias.

E eu não sei se posso me lembrar daquele dia de outubro. Meu subconsciente insiste, minhas incertezas insistem. A raiva insiste; e insiste também em evoluir pra ódio. Minha razão fica tímida perto de tantos porquês que insistem em não aparecer. Por que EU insisto? Em querer saber por quê? Em dúvidas entre correr atrás de respostas ou simplesmente deixar o vento levar? Em ouvir aquela voz por repetidas vezes só pra saber se ela ainda me traz um pouco daqueles sentimentos que foram misturados naquele dia de outubro?
E quantas mais dessa voz continuam em débito? E por que acabo de me lembrar da voz só pra mim? E do olhar só pra mim. E do centímetro que separava as mãos? E de como aquele centímetro desapareceu tão poeticamente quando foi aumentado ao seu plural? E das vezes que fechei os olhos e abri de novo pra me certificar de que aquilo não era meu subconsciente?

Me lembro de acordar de um final de semana de novembro ouvindo aquela voz em segreedo. E de te-la com uma exclusividade indesejada alguns minutos após aquela viagem. Era uma manhã chuvosa. O clima perfeito pra mim. Teria sido pra nós, se ainda houvesse razão de ser. Teria sido um reencontro de adjetivos que eu não quero imaginar.

E me lembrei do lixo do cinema. Da voz que eu ouvia toda noite antes de dormir. E do sonho. E da realidade. E de como eles se uniram naquele dia de outubro. E de como eles foram jogados no lixo de maneira tão desproporcional…

Peguei a primeira coisa que encontrei nos meus bolsos enormes e joguei no lixo do lugar culpado por ter me apresentado àquela voz. Era algo que eu tinha escrito. Era bonito, até. Alguns até diriam que era original. Era sobre a voz. E teve o fim que mereceu.

E agora tudo que faço é escrever sobre ela. Começo um parágrafo pensando em escrever algo… Mas o subconsciente me domina, me prende e me enlouquece. Peço constantemente ao subconsciente pra que ele, por favor, me deixe emudecer aquela voz da minha memória.

Ele não deixa. E joga na cara que a culpa é minha. De ter congelado naquele centímetro. De ter inevitavelmente derretido quando o centímetro desapareceu. De ter perdido alguns minutos de realidade. E de ter fechado os olhos.

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