15.1.11

em linhas tortas

Era aquela mesma fazenda. Ou recanto, não sei ao certo
A grama era verde, as árvores estavam secas. Não havia flores, frutos nem animais. Havia um pátio. E um corredor. Um banco comprido encostado numa parede de barro. E ele.

Foi sonho. Não havia nitidez naquele rosto, nem o timbre parecia certo. Mas tinha certeza que era ele. Mesmo depois de tanto tempo, eu tinha certeza. Tão cheio de vida, tão especial… Mata-se a saudade. Mata-se uma lágrima no fim do queixo, deixa escorrer outra pela ponta do nariz. Hora de ir. Não havia vontade própria. Só o subconsciente que ditava.
Abri os olhos. A chuva ainda caía.

A terra agora era seca e rachada. Finalmente eu tinha consciencia daquilo. Fiz crescer árvores enormes. Não queria flores. Não queria outras vozes. Queria um céu alaranjado de fim de tarde. E ele apareceu na sombra dos galhos retorcidos da minha árvore seca.
Havia um rosto. E o tom de voz era tal qual a música mandava. E havia olhos nítidos, mas rasos. E eu quis respostas. Inundei a terra seca de perguntas enquanto ela rachava. E quanto mais a terra rachava, mais folhas cresciam nas outras árvores. Não havia mais saudade. Agora havia um pouco de rancor. E raiva daqueles olhos vazios. Quis aproveitar aquela última oportunidade. Olhar pela últiam vez aqueles olhos. Mas eles se fecharam.
E não havia mais chuva. O corpo doía na cama.
E o céu azul. Tão perfeitamente azul que fazia a grama ainda mais perfeitamente verde. E todas as árvores eram secas. Menos a minha. De alguma forma eu havia obtido minha resposta enquanto fugi por alguns minutos daquele lugar. Corri para o pátio. Procurei pelo corredor. E lá estava ele sentado no banco, com o rosto entre as mãos. E o tom dourado daqueles cabelos escuros era tão igual à realidade… Levantou os olhos, agora tão profundos. E foi ali que eu soube.
Sim, eu tinha minha resposta. Ele se levantou, dei alguns passos para trás. Diminui em mim toda a profundidade que via nos olhos dele, e jurei calar aquela voz da minha memória. E prometi a mim mesma que tentaria não sentir mais nada.
Eu não queria mais ficar ali. Queria ficar sozinha, mas ele insistia. Corri para minha árvore. Sentei e fechei os olhos.
“Mas por que, Sara? Não era isso que você queria?”

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