Frantisek Kupka (1871 – 1957) foi
um pintor checo, licenciado pela Academia de Belas Artes de Praga. Passou pela Akademie
der Bildenden Küste, em Viena, e mudou-se para Paris em 1986. Estudou na
Académie Julian e na École dês Beaux-Arts, e começa a se dedicar ao estudo da
cor por volta de 1906. A produção em óleo sobre tela de “Os discos de Newton”
se insere numa fase em que Kupka procura explorar o uso de cores, sensação de
movimento e a relação entre pintura e música em suas produções.
A obra Os discos de Newton (Estudo para fuga em duas cores) de Frank Kupka
se encaixa no Orfismo, um movimento no interior do Cubismo. O termo Orfismo, criado
por Guillaume Apollinaire, refere-se ao mito de Orfeu, um poeta e tocador de
lira grego que tinha a capacidade de domar feras através de sua música. Essa
relação com a música é o ponto de partida desta análise da obra de Frank Kupka.
A referência a Orfeu representa a possibilidade da fusão da música com outras formas de produção artística, sem deixar de considerar o efeito irracional causado por cada uma dessas formas de expressão. Ao passar
alguns minutos observando Os Discos de
Newton mesmo sem conhecer seu
contexto e seu pretexto, percebe-se uma musicalidade expressa na composição de
cores em faixas praticamente concêntricas que se interpolam e sobrepõem. Após
situar a obra no movimento orfista e conhecer um pouco sobre o autor, pode-se
perceber que essa musicalidade não é um mero acaso.
O subtítulo “Estudo para fuga em
duas cores” expressa essa forte relação com a produção de fugas, forma de
composição polifônica de arranjos musicais muito presente nas composições de
Johann Sebastian Bach. Kupka acreditava
que a pintura deveria ser abstrata como a música, e declarava que poderia relacionar
visão e audição e, assim, produzir uma fuga em cores, assim como Bach o fazia
na música.
O título “Os discos de Newton” se
refere às descobertas do físico Isaac Newton no século XVII, que constatava que
a luz do sol é composta pelos sete espectros de cores (vermelho, alaranjado,
amarelo, verde, ciano, azul e violeta). Newton expressou a mistura dessas cores
na forma de um disco de cores que demonstrava que, da combinação de duas
diferentes cores, uma terceira era produzida. Da mesma forma, se todas as sete
cores forem misturadas opticamente, produz-se branco. A composição de Kupka parte das descobertas científicas
de Newton e mostra a incorporação de anéis de cores vibrantes, de várias faixas
do espectro incluindo o branco. A sobreposição e interpenetração dos anéis de
cor produzem uma sensação de movimento giratório, ou como propagação de ondas
na superfície da água.
A composição das cores e das
formas, e sua conseqüente sensação de movimento evidenciam a intenção do autor
de se relacionar pintura e música. Assim como Bach compõe diferentes vozes “sobrepostas”
em suas Fugas, Kupka têm bastante sucesso em criar composições com efeitos
sensoriais quase audíveis. Deixando de
lado uma análise acadêmica da obra, pode-se quase ouvir a pintura, assim como o
Prelúdio e Fuga em Ré Maior de Bach pode quase produzir imagens ao ouvida de
olhos fechados. Observar a pintura ouvindo o Prelúdio e Fuga em Ré maior produz
um efeito quase potencializado da sensação de movimento da pintura e da criação
de imagens pela música, como uma fosse feita com base na outra.
Tal comparação com a música
também vale para muitas outras composições de artistas denominados orfistas por
Apollinaire, assim como para muitas obras de diversos períodos e movimentos
artísticos. O estudo de uma obra de arte envolve sua observação, o conhecimento
de seu contexto, de seu autor e de várias características. Mas acredito que sua
apreciação e entendimento verdadeiro só podem ser completos quando algum
sentimento é despertado.
Referências e fontes de pesquisa:
”I can find something between sight and hearing and I can produce a fugue in colors such as Bach hás done in music.” Frank Kupka
MEECHAM, Pam; SHELDON, Julie. Modern art: a
critical introduction. Visualização disponível em: http://me.lt/10bSi
Prelúdio e Fuga nº 5 em Ré Maior,
BWV 850, Johann Sebastian Bach. http://me.lt/3T7cEi
MEECHAM, Pam; SHELDON, Julie. Modern art: a
critical introduction. Visualização disponível em: http://me.lt/10bSi
ASHBERY, Jonh (et al). Dicionário
da Pintura Moderna, São Paulo: Hemus, 1981. Disponível em http://me.lt/7ZVUH
DEMPSEY, Amy. Orfismo. In:
Estilos, Escolas & Movimentos: Guia Enciclopédico da Arte Moderna. São
Paulo: Cosac & Naify, 2003. pp. 99-101. Disponível em: http://me.lt/10bGJ
Site do Philadelphia Museum of
Art (recomendo ouvir o audio sobre a obra, com uma fuga de fundo musical):
Análise de Sara Mendes Teixeira para a disciplina de Fundamentos de Teoria da Arquitetura
Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo
Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
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