21.7.11

erised

Acordei como se fosse brincadeira no colchão fino sobre o chão frio. As luzes da TV dançavam pelas paredes do quarto escuro ao lado. Lugar arquitetonicamente esquisitíssimo. O sofá parecia agradecido por estar ocupado após tanto tempo.
Sorriu convidando-me. Ainda consigo sentir seus cabelos entre meus dedos, sua cabeça sobre minhas pernas e como sorria só de estar ali. E se pudesse guardar comigo alguma coisa daquele momento, guardaria sua camisa azul, tão sua, tão minha.
Ainda esfregava os olhos, não conseguia enxergar seu rosto completo... Só me lembro de seus cabelos tão escuros quanto os olhos. Mas você não queria que eu dormisse de novo. Mesmo irreal você sabia que eu poderia partir a qualquer momento. E se levantou puxando minhas mãos. Não me deixaria partir.
Don't close your eyes...
Sonhando em inglês mais uma vez... E que lugar era aquele? As vozes que vinham da TV fugiam completamente à minha compreensão...
Dance with me...
Queria ver seu rosto. Não deixava. Não era comum esse tipo de atitude. Nada ali era comum. E, de certa forma, ali nos meus braços cobertos pela camisa azul eu sabia exatamente quem você era. E, ao mesmo tempo, não sabia. Só tinha certeza de que era a pessoa certa no lugar certo, apesar de tanta coisa incomum...
Come with me...
E parou de frente para o espelho opaco que não refletia sua imagem. Andei até suas costas, tão minhas... Quis fechar os olhos e encostar a cabeça no seu ombro, não ligava para a ausência de reflexo, só para sua presença física... Abri os olhos e olhei sobre seus ombros.
E lá estava. Seu reflexo só era completo comigo. Vi meus olhos tão escuros quanto os seus refletidos na superfície esquisita e opaca que revelava meus cabelos também tão escuros quanto os seus... O espelho era ainda mais opaco no lugar onde refletiria seu rosto...

Fechei os olhos e me afastei. Escolhi lembrar-lhe só de costas.
Já estava escuro, voltei para as almofadas do sofá e fechei os olhos.
E seus braços inconfundíveis envolviam a camisa azul enquanto meus pensamentos penetravam a escuridão em direção à realidade.

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