21.4.11

Espelho

Passei quase toda a adolescência abominando a ideia de ter um espelho no quarto. Aos 17 fui criar coragem de comprar um bem grande. Aos 18 fui criar coragem de gostar do que tava vendo. Agora aos 19 me sinto bem satisfeita na maior parte do tempo.
Pra mim é muito engraçado dizer isso, nunca imaginei que um espelho pudesse mostrar tanta coisa.
Acho que até foi bom eu não ter consciência disso na adolescência, senão acho que eu teria entrado em depressão. Não pela aparência física, mas pelo que ela externava. Era tudo tão distante, tão impossível.
Tudo era tão pessimista... Eu nunca achei que iria mesmo morar na cidade que eu sempre quis morar, nunca achei que fosse mesmo estudar a universidade que sempre quis... Nunca achei que fosse ter tanta gente sempre disposta a me fazer, pelo menos, sorrir. Nunca achei mesmo que fosse realizar tantos sonhos.
Aos 15 eu nem imaginava que no dia 13 de Abril de 2011 eu estaria vivendo o momento mais intenso da minha vida. Eu nem imaginava que riscaria tantas coisas da minha wishlist.

Mas agora olhei pro espelho. A aparência não agradou muito. A aparência parece exausta, parece presa só por um fio, parece querer explodir. E é físico, é uma parte do psicológico... São as camadas mais externas do meu consciente...
Por trás disso eu vi tão além. E agradeço por não me definir mais pela camada externa do consciente, ou da aparência.
O subconsciente é sonhador, ele quer, ele deseja, ele sente, ele imagina... A melhor parte do consciente está completamente reservada somente pras coisas boas. O pessimismo parece ter ficado no passado...
Acima das olheiras estão os mesmos olhos que vivenciam momentos tão maravilhosos... Abaixo das pálpebras cansadas estão cravadas memórias incomparáveis.

Olho pra minha aparência cansada e me sinto mal por essa camada externa. E me sinto instantaneamente bem, só por saber que o cansaço pode ir (mesmo que parcialmente) embora só com esse feriado.
Algumas saudades serão devidamente amenizadas... Os olhos cansados vão dormir até tarde... O corpo cansado vai ficar pelo menos 16 horas por dia só no sossego... A mente vai ficar mais leve...

E entre todas as camadas, ou por baixo de todas elas (não consigo acreditar muito nessa teoria da cebola), convivendo com a aparência, com o físico, com o psicológico, com o consciente e o subconsciente e o inconsciente, eu vejo minha essência. A essência que foi recentemente polida. A essência ainda paradoxal e confusa e que leva sempre o meu jeitinho...
E a essência é essencialmente feliz.

O espelho pode, de cara, me descrever cansada.
Mas os olhos que olham vêem os olhos que são olhados e que na verdade são os mesmos olhos que olham. E todos eles enxergam o profundo. Enxergam o dia em que tudo se fez mais bonito, mais verdadeiro. Enxergam os dias em que os sonhos se realizam e enxergam os momentos em que a vida resolve surpreender...

E nesse misto de felicidade, cansaço, surpresa, sonho, realidade... É nesse meio todo que a essência grita satisfeita.
E nem por isso ela se irrita com a impertinência repentina de uma insônia.

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