6.6.10

e meu coraçaozinho foi junto =/

Publicada em 6/6/2010
Cidades
Júlio de Mesquita perde casarão da década de 40


Imóvel onde funcionou colégio foi demolido na manhã de ontem





Inaê Miranda
Henrique Beirangê
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
inae.miranda@rac.com.br
henrique.beirange@rac.com.br

Uma nuvem de poeira sufocou o coração do Cambuí na manhã de ontem. O pó e algumas toneladas de entulho foram o que restou do casarão histórico na Avenida Júlio de Mesquita, n 687, esquina com a Rua Barreto Leme, onde funcionou o Colégio Integral até o ano passado. A demolição do prédio, de aproximadamente 70 anos, foi feita em menos de duas horas e quem assistiu ao trabalho dos dois tratores ficou revoltado e comovido com a perda do patrimônio.
A demolição teve início às 9h de ontem e por volta das 10h30 foi concluída, restando apenas o entulho e a sensação de vazio de alguns moradores, que, surpreendidos pelo grande barulho, foram acompanhar de perto. “Não dá para acreditar no que está acontecendo. Estão destruindo a história de Campinas com o aval dos órgão públicos”, disse o paisagista Paulo Ribeiro, vizinho do casarão. “Cheguei cedo para trabalhar e tive uma surpresa ruim. O ambiente foi agredido e a paisagem do Cambuí ficou com um vazio”, afirmou o executivo de vendas Wilson Sacchetto.

Conhecida como a Avenida Paulista campineira, a Júlio de Mesquita tinha pelo menos 16 casarões construídos entre o final do século 19 e meados do século 20. Um deles era o imóvel destruído ontem, onde funcionava o Colégio Integral. As edificações, mais outros 21 imóveis da região, são remanescentes do primeiro movimento da elite campineira, nos anos 30, em se confinar em um bairro. A região foi residência de personagens que são parte da história da cidade, como o casarão demolido, que foi a casa de Santore Mirone.
Os 37 imóveis passaram por processo de tombamento desde 2001, a pedido do arquiteto Marcelo Hobeika, que representava a Associação dos Engenheiros e Arquitetos (Aeac) no Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas (Condepacc), mas apenas alguns deles foram tombados pelo órgão. “O casarão não está sob a proteção do patrimônio por conta do tombamento de outro conjunto de imóveis do outro lado da avenida, onde há alguns casarões da década de 40”, afirmou Dayse Ribeiro, coordenadora setorial do Condepacc.

De acordo com a Prefeitura, a demolição estava dentro das normas e o proprietário do imóvel tinha alvará para realizá-la. A reportagem entrou em contato com a família do dono do antigo casarão, mas foi informada que ele estava viajando e não seria possível localizá-lo.

Para o professor de história da arte da Faculdades de Campinas (Facamp) Renato Brolezzi, não existe em nossa cultura a preocupação de se dialogar o antigo com o novo. “Precisamos fugir das opções simplificadas, do tipo: se tombar fica abandonado, então efetua a demolição. É possível que haja exploração comercial de locais com significados históricos. Não quer dizer dizer que o tombamento signifique a sacralização do espaço”, disse.

O presidente da Aeac, Paulo Sérgio Saran, concorda com a decisão do Condepacc e afirma que a flexibilização das normas de construção irá beneficiar a região, e que o choque entre o contemporâneo e o clássico pode aumentar o potencial turístico do lugar. “Colocar o velho ao lado do novo é o que vemos no mundo inteiro. O exemplo mais conhecido é a pirâmide em frente ao Louvre. Podemos incentivar a preservação diminuindo esse tipo de rigidez”, disse

SAIBA MAIS

No início do mês passado, o Condepacc reviu algumas de suas resoluções, uma delas a redução da área envoltória de um conjunto de imóveis no entorno da Santa Casa, região do casarão onde funcionava o Colégio Integral, que irá permitir a construção de edifícios onde até agora só poderiam existir casas térreas. A demolição da antiga construção pode ser o primeiro sinal da ação de especuladores imobiliários no local.

REAÇÕES

Moradores de Campinas lamentam demolição

Carmem Andrade Martins
Advogada

“Corta o coração ver o que fizeram com um casarão tão bonito, que já fazia parte da paisagem do bairro.”

Arloni Baís Júnior
Analista de sistemas

“Campinas é uma cidade que não valoriza o seu patrimônio cultural.”

José Xavier
Engenheiro

“É uma tristeza. Era um prédio que podia ser utilizado para fins comerciais sem precisar ser demolido.”

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