6.5.09

A Porta

Hoje sonhei com uma porta.
Era a porta de entrada do meu apartamento, a do elevador social que, por sinal, ninguém usa por estarmos no primeiro andar.
O engraçado era que, no sonho, ninguém conseguia abri-la. Não estava trancada e a maçaneta ainda girava. Mas ninguém a abria.
Quem sabe se alguem tentasse levantá-la um pouco... Mas as pessoas pareciam nao se importar com ela. Algumas tentavam uma vez ou duas, mas preferiam entrar pela porta dos fundos.
Mesmo estando na sala, ninguém nunca notava a presença daquela porta. Alguns até perguntavam "pra onde essa porta vai?", ou "por que ninguém usa?"... mas a porta só ficava lá, parada, fechada, por meses sem que alguem entrasse por ela.

No sonho, algumas pessoas (que, é claro, entraram pela porta dos fundos) estavam se divertindo por ali, perto da porta, sem notar sua presença. Pela falta de espaço na sala, colocaram mais cadeiras, e um banco em frente à porta. A pessoa no banco se encostava na porta algumas vezes, e a cada vez, a porta sorria platônica. A pessoa desencostava e a porta voltava a se sentir inútil e descartada como sempre.
As pessoas foram indo embora (sempre pela outra porta) e a pessoa continuava lá, sentada no mesmo banco, se encostando e desencostando da porta. A uma certa hora, essa pessoa também teve que ir, e ao se abaixar para tirar o banco, bateu a cabeça na maçaneta da porta e se virou para ela. E os dois ficaram se olhando, como que se consolando pela dor de cabeça e pela dor de maçaneta. E ele quis abrir a porta, e a porta simplesmente parou no caminho dele e nao o deixou passar. O bloqueio durou alguns segundos, em câmera lenta. Ele olhou profundamente no olho mágico da porta, para saber o que estava do outro lado, e viu um elevador, e apesar de saber que levaria aos outros andares do predio quis saber como seria entrar por aquela porta, mas agora ele precisava sair, então tentou abrir a porta para tentar sair por ali mesmo. E a porta olhou fixamente nos olhos dele e implorou que ele saísse pela porta dos fundos, mas que voltasse depois e entrasse por ela. Depois de hesitar ele saiu e, enquanto andava, olhava para trás sorrindo um "até mais".

A porta continua esperando pelo sonho seguinte para saber se ele entrará no apartamento por ela.

O banco continua na frente da porta.
A porta continua fechada.
Ele segue seu caminho, e a porta continua parada.
O sorriso de "até mais" continua estampado nas memórias da porta.
E a porta continua esperando, sem saber se o olhar dele era só consolo ou educação, ou se ele queria mesmo passar por ela.

E a porta era eu.

4 comentários:

  1. vou parafrasear Machado de Assis: Você É uma escritora..! simplesmente adoreii a cronica.. mtuu boa messmoo.. ta de parabens! ker ver a continuaçao.. se tiver.. e eu axo q entendi sim o que vc quis dizer com isso.. bom.. a gnt conversa e troca umas ideias depois!
    bejao!

    ResponderExcluir
  2. coitada da porta.. diz pra ela só nao fkar parada na frente dos outros sem ser notada.. diz pra ela se abrir.. quem sabe uma nova experiencia passe sobre ela?

    ResponderExcluir